Criança sorrindo com suplemento fresubin

Suplementação para crianças: quando ela é necessária e quais são os benefícios?

Suplementação para crianças: quando ela é necessária e quais são os benefícios?

Embora seja uma questão que avançou muito nas últimas décadas, a desnutrição hospitalar infantil ainda é considerada alta no Brasil. O problema atinge entre 7,5% e 45,6% das crianças submetidas a internações pediátricas1-4. Em tal contexto, a adoção da abordagem nutricional adequada faz toda a diferença na obtenção de desfechos clínicos positivos, em diferentes quadros.

Neste sentido, é importante conhecer as características e os impactos da desnutrição e, claro, o papel da suplementação oral, cujo o objetivo é reduzir os danos dessa condição e contribuir para recuperação dos pequenos pacientes, com diferentes quadros clínicos.

Caracterização dos quadros de desnutrição

De forma sucinta, a desnutrição é caracterizada por um desequilíbrio nutricional, tanto de micro como macronutrientes e calorias. Ela pode estar relacionada com a privação alimentar (chamada de desnutrição primária) ou secundária à uma doença de base (chamada de desnutrição secundária). Além disso, também temos a desnutrição aguda, que reflete uma perda de peso rápida, e a desnutrição crônica, relacionada a deficiências de nutrientes a médio e longo prazo5.

Independentemente do tipo de desnutrição, ela pode afetar o desenvolvimento infantil em qualquer contexto. No ambiente hospitalar, por exemplo, ela está relacionada a um maior risco de episódios infecciosos, maior tempo de internação, elevação dos custos hospitalares e maior morbimortalidade nos desfechos clínicos6,7,8. Portanto, reconhecer o impacto disso sobre a fisiologia infantil e a sua consequência para a recuperação do paciente deve ser encarado sempre como parte essencial do cuidado oferecido.

Isso passa, primeiro, por determinar e reconhecer o risco nutricional da criança, através da triagem nutricional, que contribui para uma identificação precoce do estado nutricional e assim, permitir ações rápidas para evitar as complicações5. É normal, por exemplo, que pacientes evoluam de forma negativa em períodos de internação prolongada, por conta de longos período de jejum, pela redução da quantidade de alimento ingerido por via oral ou pelo agravamento da doença. 

Nesse processo, a triagem nutricional deve ser realizada no momento da admissão do paciente pediátrico e é a ferramenta mais utilizada para reconhecer as crianças com probabilidade de apresentarem maior risco em desenvolver a desnutrição.  Dentre as vantagens, podemos citar que ela é não invasiva, de baixo custo e apresenta alta eficiência na detecção dos resultados9

Dentre a literatura, existem inúmeras ferramentas de triagem utilizadas pelos profissionais para esse fim, sem um consenso sobre qual a melhor ou mais adequada. Algumas contam com tradução para o português, enquanto outras estão restritas ao inglês. A decisão de qual utilizar cabe a cada serviço de saúde decidir, mediante suas particularidades individuais, seus objetivos e características10.

Estabelecimento das necessidades de suplementação de acordo com o quadro clínico

Assim como nos adultos, nos pacientes pediátricos, é fundamental estabelecer as necessidades nutricionais de forma individualizada, considerando sua alta demanda decorrente da extensão etária, aliada a determinados quadros clínicos5

Crianças com fibrose cística, por exemplo, podem alcançar uma necessidade energética que pode variar entre 110% e 120%11 das calorias recomendadas para a idade e entre 1,5 e 2 vezes a quantidade de proteínas de acordo com a faixa etária12

Em casos de cardiopatia congênita, pode se manter o nível de ingestão proteica mencionada nos quadros de fibrose cística12,13. Já as calorias ofertadas chegam em um cálculo de 120-150 kcal/kg/dia em crianças de até 2 anos. Acima disso, as calorias devem seguir de acordo com a ingestão diária recomendada para a idade.

Já condições pediátricas, como crianças em tratamento oncológico ou com necessidades de procedimento cirúrgicos, seguem a recomendação de acordo com guia da ASPEN15:

Para ingestão calórica:

    • 1 a 7 anos: 75–90 kcal/kg/dia 
    • 7 a 12 anos: 60–75 kcal/kg/dia 
    • 12–18 anos: 30–60 kcal/kg/dia 

Para ingestão proteica:

    • Neonatos até 2 anos: 2,5 a 3,0 g/kg/dia 
    • Crianças de 2 a 11 anos: 2,0 g/kg/dia 
    • Adolescentes acima de 12 anos: 1,5 a 2,0 g/kg/dia11 

É comum ajustar a meta proteica entre 15% e 50% em caso de diagnóstico de desnutrição ou diante da perda de peso importante. 

No mais, é normal que pacientes pediátricos desnutridos apresentem prejuízo no aporte de vitaminas e minerais. Anemia e deficiência de vitamina A são as situações mais relatadas16-17.

Leia também: Como a alimentação para quem faz quimioterapia pode auxiliar no período de tratamento

Cuidados essenciais para a introdução da intervenção nutricional 

A partir do momento em que o quadro nutricional está definido, é fundamental adequar uma intervenção nutricional quando necessário. Ou seja, adequar um cardápio que considere os hábitos da criança, a melhor textura de acordo com a idade e o fornecimento dos nutrientes deficientes, facilitando sua aceitação.

Além disso, podem ser oferecidos módulos de macronutrientes e micronutrientes, além de suplementação oral nutricionalmente completa, conforme avaliação e prescrição do nutricionista ou médico responsável pelo acompanhamento5

A introdução do suplemento oral tem como méritos favorecer a oferta de nutrientes deficientes e garantir as calorias necessárias, contribuindo para que os objetivos nutricionais adequados sejam alcançados18

Em geral, eles são indicados quando a ingestão de alimentos é incapaz de suprir pelo menos 70% das necessidades nutricionais. É indispensável que o paciente tenha a função digestiva e a capacidade oral preservadas. Diante de dificuldades da adesão à suplementação oral, investir em sabores e texturas variadas em relação aos produtos oferecidos pode contribuir para obtenção de resultados melhores. Não raro, a monotonia desses suplementos é apontada como uma causa constante de queixa entre pacientes pediátricos22-23

Para contornar a falta de adesão das crianças no uso de suplementos orais, vale investir em apresentações lúdicas, variadas e saborosas dos suplementos indicados. Se mesmo assim, essa alternativa não gerar os resultados esperados, outro tipo de terapia nutricional deve ser avaliado (nutrição enteral ou nutrição parenteral), principalmente diante do risco de piora do quadro nutricional e as consequências que isso acarreta para a condição clínica. 

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Referências

    1. LEE, Yeoun Joo. Nutritional screening tools among hospitalized children: from past and to present. Pediatric gastroenterology, hepatology & nutrition, v. 21, n. 2, p. 79-85, 2018. DOI: 10.5223/pghn.2018.21.2.79 
    2. HUYSENTRUYT, Koen et al. More training and awareness are needed to improve the recognition of undernutrition in hospitalised children. Acta paediatrica, v. 104, n. 8, p. 801-807, 2015. DOI: 10.1111/apa.13014 
    3. JOOSTEN, Koen FM; HULST, Jessie M. Nutritional screening tools for hospitalized children: methodological considerations. Clinical nutrition, v. 33, n. 1, p. 1-5, 2014. DOI: 10.1016/j.clnu.2013.08.002  
    4. HARTMAN, Corina et al. Malnutrition screening tools for hospitalized children. Current Opinion in Clinical Nutrition & Metabolic Care, v. 15, n. 3, p. 303-309, 2012. DOI: 10.1097/MCO.0b013e328352dcd4 
    5. GOMES, Daniela França et al. Campanha" Diga não à desnutrição Kids": 11 passos importantes para combater a desnutrição hospitalar. Braspen J, v. 34, n. 1, p. 3-23, 2019. 
    6. Sarni ROS, Souza FIS, Albuquerque MP. Desnutrição energético-proteica: abordagem hospitalar, hospital-dia e ambulatorial. In: Burns DAR, Campos Júnior D, Silva LR, Borges WG, eds. Tratado de Pediatria – Sociedade Brasileira de Pediatria. 4a ed. Barueri: Manole; 2007. 
    7. HECHT, Christina et al. Disease associated malnutrition correlates with length of hospital stay in children. Clinical nutrition, v. 34, n. 1, p. 53-59, 2015. DOI: 10.1016/j.clnu.2014.01.003 
    8. TEIXEIRA, Adriana Fonseca; VIANA, Kátia Danielle Araújo Lourenço. Triagem nutricional em pacientes pediátricos hospitalizados: uma revisão sistemática. Jornal de Pediatria, v. 92, p. 343-352, 2016. DOI: 10.1016/j.jped.2015.08.011
    9. CARVALHO, Fernanda Christina de et al. Tradução e adaptação cultural da ferramenta Strongkids para triagem do risco de desnutrição em crianças hospitalizadas. Revista Paulista de Pediatria, v. 31, p. 159-165, 2013.
    10. CHOURDAKIS, Michael et al. Malnutrition risk in hospitalized children: use of 3 screening tools in a large European population. The American journal of clinical nutrition, v. 103, n. 5, p. 1301-1310, 2016.
    11. STALLINGS, Virginia A. et al. Evidence-based practice recommendations for nutrition-related management of children and adults with cystic fibrosis and pancreatic insufficiency: results of a systematic review. Journal of the American Dietetic Association, v. 108, n. 5, p. 832-839, 2008. DOI: 10.1016/j.jada.2008.02.020 
    12. COLOMBO, Carla; NOBILI, Rita Maria; ALICANDRO, Gianfranco. Challenges with optimizing nutrition in cystic fibrosis. Expert review of respiratory medicine, v. 13, n. 6, p. 533-544, 2019.
    13. TURCK, Dominique et al. ESPEN-ESPGHAN-ECFS guidelines on nutrition care for infants, children, and adults with cystic fibrosis. Clinical nutrition, v. 35, n. 3, p. 557-577, 2016. DOI: 10.1016/j.clnu.2016.03.004
    14. ROMAN, Brandis. Nourishing little hearts: nutritional implications for congenital heart defects. Pract Gastroenterol, v. 8, p. 11-32, 2011. 
    15. AMERICAN SOCIETY FOR PARENTERAL AND ENTERAL NUTRITION. Guidelines for the use of parenteral and enteral nutrition in adult and pediatric patients. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, v. 26, p. 1SA-138SA, 2002.
    16. OLIVEIRA VC, Viani K. Necessidades nutricionais. In: Silva APA, Nascimento AG, Zamberlan P, eds. Manual de dietas e condutas nutricionais em pediatria. São Paulo: Atheneu; 2014. p.39-43.
    17. OLIVEIRA FLC. Aspectos clínicos e laboratoriais. In: Nóbrega FJ, ed. Distúrbios da nutrição na infância e adolescência. São Paulo: Revinter; 2007. p.195-9.
    18. GARÓFOLO, Adriana; PETRILLI, Antônio Sérgio. Balanço entre ácidos graxos ômega-3 e 6 na resposta inflamatória em pacientes com câncer e caquexia. Revista de Nutrição, v. 19, p. 611-621, 2006.
    19. GARÓFOLO A, Lancellotti F, Utescher GB. Terapia nutricional oral, enteral e parenteral. In: Silva A CL, Hirose EY, Kikuchi ST (eds.). Manual prático de assistência nutricional ao paciente oncológico adulto e pediátrico. 1 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2020. p. 33-50.
    20. ARENDS, Jann et al. ESPEN guidelines on nutrition in cancer patients. Clinical nutrition, v. 36, n. 1, p. 11-48, 2017.
    21. HORIE LM, et al. Diretriz Braspen de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer. BRASPEN J, v. 34, Supl 1, p. 2-32, 2019.
    22. WAITZBERG, Dan Linetzky. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. In: Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 2004. p. 1858-1858.
    23. FREITAS JP, FORNASARI MLL, LAZZARI NLC. Receituário de preparações moduladas com suplementos nutricionais orais para pacientes oncológicos de um hospital privado na cidade de São Paulo. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (1): 13-8.